quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Navegar é bom...


Indagado sobre a escolha do título do nosso blog, respondi que é porque eu sempre gostei de navegar, mesmo antes da Internet.  
É bem conhecido o ditado que afirma: “Deus não debita na conta da nossa vida os dias passados no mar”. E o patriarca Jacques Custeau costumava dizer que as pessoas não param de navegar porque envelhecem. Elas envelhecem porque param de navegar.
Daí a razão deste post. Navegar é bom, mas velejar é ainda melhor. Apesar de ainda não ter velejado tanto quanto gostaria, acredito que nenhum outro esporte oferece tantos apelos quanto a navegação a vela.
Tenho vários amigos, proprietários de lanchas, que são pessoas solidárias e responsáveis. Devidamente habilitados, eles respeitam as normas de civilidade e de segurança. Mas, como regra geral, lancheiros e velejadores são duas tribos que tem pouco em comum, além de serem navegadores.
No meu ponto de vista, lancha é uma condução que se utiliza para pescar, esquiar, mergulhar, churrasquear, cruzeirar, etc. Por outro lado, o simples ato de velejar já é praticar um esporte em sua essência. E sem pressa.
Velejar não só é divertido como, ao mesmo tempo, oferece inúmeras e diversificadas emoções que começam quando abrimos nossas velas ao vento e movimentamos a embarcação no rumo pretendido, sem barulho nem fumaça.
Somente o velejar é que transmite uma total sensação de paz e liberdade. Somente o velejar é que, a cada nova saída, nos apresenta um desafio diferente, desafio que sempre terá o inigualável sabor de uma nova aventura e que nos proporciona a prática de novos conhecimentos e novas experiências sobre a melhor utilização das águas e dos ventos. Sentimos que amadurecemos nosso físico, que nossa técnica melhora seguidamente e que o nosso linguajar marinheiro torna-se cada vez mais fluente e correto.
- Bons ventos!

Bene

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A Areia da praia

J

A areia que você vê na beira do mar nada mais é do que um tipo de "pó de pedra" formado pela erosão de rochas ao longo de milhões de anos, trazido aos poucos para o litoral por córregos e rios.
O tipo de rocha que dá origem à areia determina a cor do grão. Se a montanha da qual vem a areia é rica em quartzo (um tipo de mineral), por exemplo, a praia fica branquinha. Se a montanha tem muita mica (outro mineral), a areia fica mais escura.
O curioso é que, uma vez na praia, a areia acaba se tornando pedra de novo. Conforme os grãos se empilham no leito do mar, ao longo de outros milhões de anos, eles se tornam um tipo de rocha sedimentar, o chamado assoalho oceânico.

1.         A primeira etapa da "fabricação de areia" é a erosão de rochas em regiões montanhosas. Chuva, vento, raios e raízes gradualmente desmancham a pedra. O "pó de rocha" criado pela erosão se torna parte do solo da região de montanha.
2.         As chuvas carregam o "pó de pedra" até córregos e rios. No caminho pelo rio, os restos de rocha (sedimentos) têm diferentes destinos, de acordo com o tamanho das partículas.
3.         A parte mais fina (argila) fica em suspensão e se espalha pela água. As partes maiores e mais pesadas (cascalho) se precipitam ainda no rio e ficam em seu leito. A parte intermediária (areia) é levada pela correnteza até a costa e se deposita apenas no litoral.
4.         No caminho até o litoral, a areia é "trabalhada": o atrito com a correnteza e com outras pedras a faz ficar menor e mais arredondada.
5.         A areia também pode ser composta de restos de conchas, de animais marinhos e de algas, dependendo da fauna marítima e das marés locais.

Bene

Soutien

Se você estiver procurando algo na vida que seja justo, lembre-se do soutien:
  • oprime os grandes,  
  • protege os pequenos,
  • levanta os caídos.

domingo, 16 de janeiro de 2011

100 mil anos de navegação

FRANCE PRESSE - FSP-04.01.11




Há 130 mil anos, humanos primitivos navegaram pelo menos 60 km até a ilha de Creta
 

Arqueólogos na ilha grega de Creta encontraram fortes evidências de que humanos primitivos conseguiam navegar milhares de anos antes do imaginado, anunciou o governo grego ontem.
Uma equipe de pesquisadores dos Estados Unidos e da Grécia chegou a essa conclusão após encontrar ferramentas de pedra com no mínimo 130 mil anos de idade em Creta, que naquela época já era uma ilha. Até hoje, as evidências mais antigas de viagens em alto mar indicavam os primeiros barcos como tendo apenas 60 mil anos de idade. 
Quem anunciou a descoberta foi o ministro grego da Cultura, Pavlos Geroulanos. "A pesquisa, além de provar que existiram viagens marinhas no Mediterrâneo, dezenas de milhares de anos do que se sabia até hoje, também mudam os conhecimentos sobre as habilidades cognitivas dos homens de então." As ferramentas encontradas nas praias de Plakia e Preveli são atribuídas ao Homo heidelbergensis e ao Homo erectus, anteriores ao Homo sapiens, que saiu da África para se espalhar pelo mundo há 60 mil anos.
Para chegar a Creta, eles tiveram de navegar pelo menos 60 quilômetros, mas não se sabe bem de onde partiram. Antes dessa pesquisa dos arqueólogos da Escola Americana de Estudos Clássicos de Atenas, acreditava-se que a ilha de Creta só teria sido ocupada há 7.000 anos. Eles acharam as ferramentas sem querer, quando procuravam por resquícios dessa época.
Resta um questionamento: as ferramentas teriam realmente sido feitas a 130 mil anos, ou foram construidas há 7.000 anos com pedras de 130 mil anos?


quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A Cabana


Publicado nos Estados Unidos por uma editora pequena, A Cabana se revelou um desses livros raros que, a partir do entusiasmo e da indicação dos leitores, se torna um fenômeno de público – quase dois milhões de exemplares vendidos – e de imprensa.
Durante uma viagem de fim de semana, a filha mais nova de Mack Allen Phillips é raptada e evidências de que ela foi brutalmente assassinada são encontradas numa velha cabana.
Após quatro anos vivendo numa tristeza profunda causada pela culpa e pela saudade da menina, Mack recebe um estranho bilhete, aparentemente escrito por Deus, convidando-o a voltar à cabana onde aconteceu a tragédia.
Apesar de desconfiado, ele vai ao local numa tarde de inverno e adentra passo a passo o cenário do seu mais terrível pesadelo. Mas o que ele encontra lá muda o seu destino para sempre.
Em um mundo cruel e injusto, A Cabana levanta um atemporal questionamento: se Deus é tão poderosos, por que não faz nada para amenizar o nosso sofrimento?
As respostas que Mack encontra vão surpreender você e podem transformar sua vida de modo tão profundo como aconteceu a ele. Você vai querer partilhar este livro com todas as pessoas que ama.
Minha mulher me deu A Cabana no último Natal. Devorei o livro em três dias, gostei e aderi ao Projeto Missy.
William P. Young
Editora Sextante
ISBN 978-85-99296-36-3
Bene


quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Tragédia ambiental

 
Quem assiste à TV deve ter notado a substituição do noticiário policial pelas tragédias ambientais. Mais de duzentas mortes na região serrana do Rio de Janeiro. As inundações estão por toda a parte. Repetem-se neste verão o desespero da população e a incompetência das autoridades frente à violência das chuvas. São cidades e cidades inundadas. As causas apuradas são o excesso de chuvas (natureza), ocupação irregular (povo), e falta de planejamento, obras e fiscalização (governo).
Os que buscam o litoral neste período têm-se surpreendido com o número de praias impróprias para banho, dados a quantidade de coliformes fecais vivos encontrados pela Cetesb, a falta de abastecimento de água e o agravamento da situação do lixo.
A questão ambiental, ao que parece, começa a chamar mais a atenção da grande mídia à medida que se agravam os dramas humanos. Quanto às autoridades... Estas parecem não perceber que há uma nova lógica na gestão pública que precisa orientar as políticas governamentais.
A SOS Mata Atlântica mostrou que, dos 43 corpos d'água (rios e lagos) pesquisados em 12 Estados do Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste, nenhum possui suas águas em boas condições. O quadro é mais que preocupante: 70% estão em condições apenas regulares; 25%, ruins; 5%, péssimas.
Outra constatação é que a baixa qualidade das águas se deve mais à poluição por esgoto que por efluentes industriais. Aliás, justamente aquela de responsabilidade exclusiva do público e do setor público, que mostra capacidade reguladora inversamente proporcional a de gestora.
Com 80% da população em cidades com crise habitacional, crise de abastecimento de água e ausência de saneamento, vê-se que as políticas públicas ainda não se prepararam para a era da sustentabilidade, que já chegou.
Já passou da hora dos políticos descerem dos palanques e começarem a cumprir as suas obrigações mínimas, a fazerem aquilo para o que foram eleitos: gerir a coisa pública!

Bene

Felicidade vai e volta...


Você tem entre 40 e 50 anos e está se sentindo no fundo do poço. Você, a torcida do Flamengo, do Corinthians, do Barcelona e do Milan. A crise da meia-idade está nas estatísticas.
Isso muita gente já imaginava. Difícil é imaginar que quanto mais os anos forem passando, mais feliz você será. E que isso também está estatisticamente provado.
A relação entre felicidade e idade é uma curva em "U": começa alta, atinge o ponto mais baixo na faixa entre 40 e 50 anos e parte para uma linha ascendente na chamada terceira idade.
A geração que passa a ocupar o lugar de terceira idade tem a expectativa de passar muito anos nessa fase da vida. Quem não acreditava em ninguém com mais de 30 anos, chegou à faixa que vai dos 50 aos 70.
"Uma característica dessa geração é o caráter de inovação e transgressão. A cada nova etapa da vida (adolescência, vida adulta), as pessoas mudam radicalmente o modelo anterior, e isso deve acontecer na fase do envelhecimento", afirmam os psicólogos. Está sendo criado um novo modelo para a velhice, que tem a ver com a busca de atividades que tragam satisfação, dizem eles.
Tempo, dinheiro e desobrigação de constituir família seriam condições ideais para buscar alternativas de atividades e criar novos laços afetivos, eróticos ou não.
Se voce teve uma juventude feliz, pode almejar uma velhice alvissareira.

                              Bene

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Às minhas visitas

1.               Seja sempre bem-vindo.
2.               Lembre-se de que o meu cachorro vive nesta casa.  Você não.
3.               Se você não quer pelos de cachorro em suas roupas, fique em pé, longe do sofá.
4.               Sim, o cachorro tem hábitos desagradáveis. Eu também, assim como você. E daí?!
5.               Claro que eles cheiram a cachorros. Já percebeu como nós, humanos, cheiramos ao final de um dia de trabalho? Coloque-se no lugar de alguém que tem um olfato 400 vezes mais sensível que o seu e sempre o receberá com explosões de carinho no retorno ao lar.
6.               É da natureza deles tentar cheirar você. Por favor, sinta-se à vontade para cheirá-los também.
7.               Se existisse algum risco do cachorro mordê-lo, eu não o deixaria se aproximar de você. Porém, não posso impedi-lo de responder a agressões, as quais podem ocorrer até em pensamento, seja para com ele, seja para comigo a quem devota fidelidade. Os cachorros percebem, tenha certeza.
8.               Você já tentou beijar alguém e recebeu em troca um empurrão? Se um cachorro tentar lambê-lo é porque aprova sua presença e quer demonstrar isso carinhosamente a você; e lembre-se que cachorros não mentem nem fingem.
9.               Aqui cachorro recebe os devidos cuidados veterinários, alimentação sadia e cuidados higiênicos. Sua companhia é altamente recomendada pelos médicos, e a maioria das doenças que contraímos ao longo da vida com certeza é transmitida por outros humanos.
10.            Há diversas situações nas quais cachorros são preferíveis a pessoas. Afinal de contas, sempre podemos confiar inteiramente em sua fidelidade e sinceridade.
11.            Para alguns, eles são simples cachorros. Para mim são filhos adotivos que andam de quatro e não falam tão claramente. Eu não tenho problema em nenhum desses pontos. E você?
12.            Volte sempre que quiser, pois será bem-vindo.  Até pelo cachorro. Eles são mais sensíveis que nós, bastando se aproximar para distinguir com clareza os verdadeiros amigos de pessoas falsas.

Autor desconhecido

domingo, 9 de janeiro de 2011

Assepsia linguística – Socorro!!!




Depois de violentarem a obra de Villa Lobos no Brasil, agora chegou a vez de Mark Twain, nos Estados Unidos, com a mudança de texto original para adequação ao patrulhamento ideológico do politicamente correto – assepsia lingüística – hug!
Se o cravo não pode mais brigar com a rosa, para não estimular a violência entre os homens e as mulheres, nem se pode mais atirar o pau no gato para não incutir a violência entre os mais jovens; agora os americanos também estão removendo a palavra “negro” dos trabalhos clássicos de Mark Twain e substituindo por “escravo”, termo que consideram socialmente mais tolerável. Será?
Já não se deve mais usar: gordo, preto, fresco, retardado, velho, cego, etc. Tudo isso está sendo substituído por eufemismos que me parecem coisa de veado. Chamar cego de deficiente visual é a maior frescura. Cego é cego, porra! Deficiente visual sou eu que sofro de miopia, catarata e glaucoma.
Nesse passo, os políticos (sempre mal escolhidos pela plebe ignara) logo estarão decretando uma nova versão para a oração universal ensinada por Jesus Cristo:
“Pai e mãe nossos, que estais nos céus ...”
Affe !


sábado, 8 de janeiro de 2011

Da quadratura do círculo


Houve tempo em que não gostava dos sonhos. Uns pelos outros, eram angustiantes, mesmo quando não eram pesadelos. Com frequência, acordava com a terrível sensação de estar numa queda livre e com a boca seca, para falar o mínimo.
Ultimamente estou gostando de sonhar, e qualquer coisa serve. Descobri tardiamente que isso me transporta no tempo e no espaço, ao passado e ao futuro, vejo paisagens deslumbrantes e absurdas, convivo com pessoas que não mais existem, parentes, amigos e até mesmo desconhecidos, que, no sonho, se tornam parceiros.
Os sonhos fazem parte da história da humanidade e acabam por se tornar um meio para explicar o inexplicável desde as mais remotas origens, passando pela mitologia grega e continuando na cultura ocidental cristã.  Prometeu, Jacó, José do Egito, São José, a mulher de Pilatos, são exemplos de sonhadores literais. Também existem os que sonham acordados e fazem brotar novas ideias como Newton, Thomaz Edison, Santos Dumont, Luther King e Kennedy.  E ainda existem os que se dedicam à interpretação dos sonhos, como Freud, Jung, Kristeva, Mãe Salete e outros tantos.
Certa manhã, eu acordei intrigado com as cenas finais de um sonho que beirava o surrealismo. Meu papel era o de balconista na loja do meu pai. Um jovem surgiu com um desenho de um círculo mal feito a lápis num pedaço de papel, como se tivesse sido feita uma cópia ou um decalque da peça original. Mas o mais intrigante foi a forma como pedia o objeto desejado: “Me dá um quadrado!”
Após examinar melhor o modelo no papel e obter respostas esclarecedoras para a sua necessidade, descobri que o mesmo buscava uma borracha daquelas utilizadas para completar o acoplamento entre o motor elétrico e bomba de água, que, na verdade, tem quase a forma de uma estrela – uma peça circular com pontas quadradas, destinadas a absorver o impacto entre duas polias de metal.
O angustiante, no meu sonho, é que as pessoas iam chegando e se envolvendo emocionalmente na discussão e formando dois blocos antagônicos.  Uns defendiam que a peça era circular e outros achavam que era formada por quadrados.  A discussão cresceu e se estabeleceu um combate onde a violência nasceu com a naturalidade daqueles fanáticos que se julgam os paladinos da verdade e com vocação de messias.
Dois partidos se formaram, onde as pessoas passavam a aceitar pacificamente os seus postulados, sem se deterem numa análise racional para a busca de uma solução objetiva do impasse – quadrado x redondo.
Agora, bem acordado, gostaria de estabelecer um paralelo dessas imagens com a nossa rotina diária nas empresas. Quanto tempo e energia nós desperdiçamos ao aceitar pacificamente e defender de forma veemente as “verdades” deste ou daquele grupo, que em nada contribuem para os verdadeiros objetivos da empresa?  Não estará a nossa visão de trabalho em equipe sendo prejudicada por um corporativismo anacrônico e improdutivo?  Teremos a racionalidade para distinguir os verdadeiros valores, missão e objetivos da organização, daquilo que pode ser apenas sectarismo inconsequente e espírito de corpo (para não falar espírito de porco)?   Não estaremos, ainda que inconscientemente, defendendo a quadratura do círculo?

Bene

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O estilo da NET


Outro dia, recebi uma contribuição crítica de um grande amigo sobre o nosso Blog:
“Voce sempre escreveu bem, disse ele, mas precisa se ajustar ao estilo da NET, onde os internautas não costumam dedicar muito tempo procurando o sentido de um texto.
 Livre-se das influências acadêmicas, para não dizer machadianas, indo direto ao ponto.  
Pratique um pouco daquilo que você mesmo prega nos seus treinamentos de comunicação empresarial. Adote um estilo clean, seja claro, coerente e conciso. Leve em conta o perfil do seu público e procure dar o seu recado em não mais do que meia página.
Com certeza, terá mais seguidores e receberá mais comentários”.

Prometi ao meu amigo que iria me esforçar para conseguir dizer mais, escrevendo menos.

Bene


A praia é de todos


Nas cidades litorâneas de todo o Brasil tem-se visto a demolição de quiosques e o impedimento de instalação de barracas por hotéis e condomínios nas areias.
Tais medidas podem parecer rigorosas demais, principalmente porque muitos banhistas usufruem da comodidade proporcionada por bares e restaurantes e da tranquilidade de encontrar "reservado" um espaço privilegiado na areia. Contudo, a área ocupada por quiosques, hotéis e condomínios não lhes pertence. Não são áreas privadas, já que, por lei, as praias são bem de uso comum, de livre acesso a toda a população, sendo vedada qualquer forma de uso do solo na zona costeira que impeça ou dificulte isso (lei 7.661/ 98).
É claro que todos pode instalar o seu guarda sól. Desde que o façam apenas no momento em que chegarem à praia e no espaço que estiver vago. Só assim se descaracterizará a (proibida) reserva de espaço público.
Já fornecedores de comidas e bebidas devem, preferencialmente, ficar no calçadão, já que a praia constitui área non aedificandi.  Pode-se até admitir a ocupação de uma pequena área da areia em praias sem calçadão, sempre mediante autorização do órgão competente e respeitando rigorosamente o espaço especificado, sem espalhar mesas e cadeiras no seu entorno.
Se a comodidade proporcionada por bares, restaurantes, hotéis e condomínios é do interesse de várias pessoas, a fruição livre das praias é do interesse de toda a população. Resta ao Poder Público conciliar esses interesses, com adequada regulamentação aliada a um aparato de fiscalização eficaz. Dura Lex, sed Lex.
No Guarujá, a Secretaria do Patrimônio da União – SPU – firmou acordo com a prefeitura local para a gestão do uso da orla.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Tênis ou Frescobol


Depois de muito meditar sobre o assunto concluí que os relacionamentos são de dois tipos: há os do tipo "tênis" e há os do tipo "frescobol".
Os relacionamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os do tipo frescobol, por outro lado, são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.
Explico: para começar, uma afirmação de Nietzche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: "Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até sua velhice?" Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.
Scherazade sabia disso. Sabia que os relacionamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, e terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente.
Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E diferente do que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: "Eu te amo...".
Barthes advertia: "Passada a primeira confissão, 'eu te amo' não quer dizer mais nada." É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: "Erótica é a alma".
O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir sua cortada - palavra muito sugestiva - que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado.
Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra, pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é jogar pra sempre... E, o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...
A bola: são nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho prá lá, sonho prá cá... Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão...
O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde. Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração.
O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha, para que os dois ganhem.
E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...
Rubem Alves