quarta-feira, 31 de outubro de 2012

iPad nas apresentações

 
Foi com um misto de estranheza e curiosidade que no ano passado vi a notícia publicada no UOL: Lendo discurso em iPad, Gleisi se despede do Senado.

Para alguns pode parecer algo banal, mas é uma revolução estonteante. Afinal, são séculos de experiência com discursos impressos em papel. A novidade me surpreendeu. Quase sempre é assim, o novo, às vezes, provoca algum tipo de desconforto. Não chego a resistir. Pesquiso, experimento e se for bom, adoto com tranquilidade.

Esperei para ver se a moda pegava. Passado um ano, entretanto, poucos tiveram essa “ousadia”. Vi alguns casos no exterior, especialmente nos Estados Unidos, mas nada que pudesse indicar um novo hábito na forma de fazer apresentações. Afinal, temos de levar em conta que ainda estamos vivendo um processo de transição.

A notícia mais antiga que encontrei sobre o uso do IPad por uma personalidade para ler o discurso foi do Prefeito de Nova Iorque Michael Bloomberg. A notícia é de junho de 2010: Prefeito Bloomberg dispensa cartão de notas por um IPad.
Estou mencionando esses exemplos todos para mostrar que o assunto não é totalmente novo, embora o uso dos tablets para leitura de discurso ainda não tenha se alastrado.

Um leitor me consultou se poderia usar o iPad durante um discurso de formatura. Ponderei bem sobre os motivos que levariam alguém a substituir o papel pelo IPad para ler discursos em público. Relacionei alguns pontos favoráveis, outros contrários e não consegui chegar a uma conclusão para o seu caso. Para não ficar sem dar resposta eu sugeri que continuasse com o papel. A regra é simples: na dúvida, lance mão do tradicional.

Embora os tablets sejam desconfortáveis para segurar, exijam bastante traquejo de uso para não provocar insegurança no orador e possam prejudicar a concentração dos ouvintes por ainda ser novidade, não há dúvida que daqui para frente estarão cada vez mais presentes na arte de falar em público. Tirando esses inconvenientes mencionados, são muitos os benefícios.

Considere que você poderá receber discursos de última hora, mesmo que já esteja no evento, diante da plateia. Mostra atualização tecnológica. Permite a escolha do tamanho da letra de acordo com sua capacidade de visão. Possibilita a projeção de gráficos e ilustrações no momento da leitura.

Além dessas vantagens você poderá arquivar no aparelho todos os discursos para que consulte a qualquer tempo. Assim evitará repetir informações para a mesma plateia. Ficará mais simples para disponibilizar em links o texto para jornalistas ou outras pessoas interessadas.

A decisão é sua. Se você estiver acostumado a usar tablets em suas tarefas corriqueiras, provavelmente também se sentirá à vontade para ler discursos nesses aparelhos. Se, entretanto, eles constituírem novidade para você, tenha cuidado porque ler diante de uma plateia já não é tão simples, com uma preocupação adicional pode ser até embaraçoso.
 Repetimos aqui o conselho que damos em nossos treinamentos de formação de instrutores e de técnicas de apresentação. Como qualquer outro recurso de apoio, o tablet exige controle, domínio, familiaridade e, sobretudo, treino, muito treino!
 
 Bene

domingo, 28 de outubro de 2012

Habemus comarchus*




Sim, com o encerramento da votação já temos a confirmação do resultado da eleição na capital, confirmando-se as pesquisas de vitória de Haddad sobre Serra por uma diferença próxima de 10%.
Rei morto, rei posto. Não se trata mais de discutir se o Serra era melhor ou se a vitória do Haddad representa o escárnio do Zé Dirceu sobre a sociedade de bem. Passou o tempo de especular se os partidos de oposição não teriam um candidato mais simpático e capaz de vencer as eleições.
Desejo de todo o coração que o novo alcaide faça o melhor governo, assim como parece que a Da. Dilma está se esforçando para ser melhor e menos inconsequente do que seu antecessor no palácio do planalto.
Apresento as minhas condolências ao povo de São Paulo, que não soube ser digno das tradições quatrocentistas, não conseguiu explicitar seus valores e se deixou vencer pela periferia levada pelo demagógico canto de sereia do PT.
No princípio, as coisas eram diferentes. O PT original reunia intelectuais, idealistas, revolucionários, artistas e líderes sindicais, todos com discurso de moralidade, mas já com objetivos corporativos. O tempo passou. Os idealistas se decepcionaram ou foram defenestrados. A mosca azul do poder subiu à cabeça e hoje temos isso que aí está.
O sonho do führer Zé Dirceu de um Reich de Mil Anos parece estar se concretizando, graças a uma pérfida combinação de fatores.
Resumindo em poucas palavras, a grande força eleitoral do PT é uma patologia (consciente ou inconsciente) que leva milhões de pessoas de pretensa “classe média” ao sonho de um dia poder ser igual ao Lula: enriquecer em poucos anos, mesmo sendo ignorantes, desonestos, inescrupulosos, malandros, e sem necessidade de trabalhar seriamente.
Essa síndrome, num país onde os desvalidos são a maioria, elege Dilmas, Hadadds, Padilhas, Tiriricas e o cacete.
Com essa corja no poder, com o PAC, os apagões e com a escalada da violência ridicularizando uma polícia fragilizada, chego a desejar que os Maias estejam certos e que isso tudo venha a se resolver em dezembro próximo, graças a fatores naturais como a precessão dos equinócios... 

*Temos prefeito

 

CODEX 632


O romance de José Rodrigues dos Santos rebusca as misteriosas origens de Cristóvão Colombo. Ou será de Cristoforo Colombo, ou melhor, de Cristobal Colón, Cristophon Cólon, Cristóvam Colom, Christóval Cólom, Cristopher Columbus, Christophorus Colonus, ou Colona, Colonna, ou Salvador Fernandes Zarco.
Ao longo de 550 páginas, José Rodrigues dos Santos transporta-nos numa viagem à descoberta dos enigmas que rodearam a vida de “Colombo”, numa aventura plena de enigmas e a decorrer em vários locais: Lisboa, Nova Iorque, Rio de Janeiro, Gênova, Sevilha, Sintra, Jerusalém, Tomar, Londres,… Mas para além desta História, coexistem outras histórias paralelas como, por exemplo: o romance de Tomás com Lena, uma inteligente e esbelta aluna sueca; a ruptura de Tomás com Constança, sua esposa; ou ainda, a filha Margarida, com 9 anos e possuidora de Trissomia 21.
Habilmente escrito, o romance é em grande parte a reposição das teorias do historiador Mascarenhas Barreto («The Portuguese Columbus: Secret Agent of King John II», 1992) e do médico Manual Luciano da Silva, («Columbus wasn´t Columbus»,1989).
Salvador Fernandes Zarco (SFZ), primo do Rei D. João II, teria nascido em Cuba, Alentejo, em 1448, tendo partido com seis anos de idade para a Ilha do Porto Santo acompanhado pela mãe depois dela ter casado com Diogo Afonso Aguiar. Aos 14 anos iniciou a vida marítima nas caravelas portuguesas em viagens para as costas de África. Tomaria o nome Cristoforo Colombo ao entrar para os Cavaleiros de Cristo, e a troca dos nomes deu-se porque era um judeu bastardo. Mais tarde viria a casar com Filipa Moniz de Perestrelo, uma jovem nobre portuguesa, descendente de Egas Moniz e filha de Bartolomeu Perestrelo, o primeiro donatário de Porto Santo. Deste casamento nasceu um filho legítimo que foi batizado com o nome de Diogo Cólon. Em defesa desta teoria encontramos um sem número de particularidades, destacando-se:
- Cólon em grego é igual a Zarco em judaico;
- Abraão Zacuto, para além de médico do rei D. João II, era também astrônomo e foi ele que, como matemático, escreveu o "Almanach Perpetuum" e as Tábuas de Navegação que seriam usadas por “Colombo” quando fez a viagem às Caraíbas em 1492 e também pelo navegador Vasco da Gama na viagem à Índia. Refira-se ainda que foi durante a estadia de Abraão Zacuto em Tomar que se construiu a Sinagoga do Arco ou do Zarco;
- O nome dado por “Colombo” à primeira ilha descoberta foi "San Salvador" (o seu verdadeiro nome);
- À segunda ilha, “Colombo” chamou Fernandina, topônimo derivado de Fernandes (filho de Fernando), e ele era na realidade Salvador Fernandes, filho de Fernando;
- A uma outra chamou Isabela, provavelmente em homenagem a sua mãe, Isabel;
- À ilha seguinte deu o nome de Juana, quiçá se em honra do Rei D. João II, mas depois, trocou-o por Cuba, nome da sua terra natal. 

«O Codex 632» é mais um romance histórico, mas também uma obra que pretende ficcionar em torno da verdadeira missão de “Colombo”, porventura um dos segredos mais bem guardados da epopeia dos Descobrimentos portugueses. E é um livro que se lê com prazer e, sejamos francos, com certa avidez da primeira à última página. Maior mérito do seu autor.
 
Bene

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

No tempo da cavernas


No tempo das cavernas, as pessoas lutavam pela sobrevivência e disputavam espaço e alimentos com outras tribos e animais. Velhos e crianças ficavam sob os cuidados das mulheres enquanto os homens se aventuravam como caçadores ou caçados.
Nesse contexto, cada um se arranja como pode e procura manter-se no seu canto, com pouco ou nenhum contato social na pré-história.
A humanidade evoluiu, passando pela revolução agrícola com os aglomerados familiares e sociais. Nas casas, além da família do proprietário, que era o senhor, também viviam parentes, agregados e serviçais, constituindo-se verdadeiras comunidades ou clãs. Cena comum, do romantismo dos séculos XVIII e XIX, era encontramos a donzela, filha ou sobrinha, num recital de piano que enchia de orgulho seus pais e entediava a maioria dos presentes. Tudo era feito em comum.
Sobreveio a revolução industrial, dando origem ao trabalho assalariado, à produção em série e a inevitável concentração demográfica nas cidades, nascendo daí os condomínios, os apartamentos e as favelas.
A revolução da informática, na segunda metade do século XX, veio acelerar as comunicações, encurtando as distâncias e criando a realidade virtual da Internet.
O velho televisor da sala, usufruído pela família, amigos e vizinhos, foi substituído por um receptor em cada quarto. O jantar em família cedeu lugar ao fast food impessoal e individualizado.  O trabalho e a emancipação feminina, a pílula, o aumento da escolaridade, as gerações X e Y, as redes sociais, os dispositivos móveis e os horários desencontrados, levaram a uma desagregação familiar, a uma solidão em comum, onde todos estão sempre conectados, mas não se conectam pelo olhar.
Nesse contexto, cada um se arranja como pode e procura manter-se no seu canto, com pouco ou nenhum contato social na pós-história.
Parece que, em que pesem as conquistas tecnológicas, nossa capacidade de relacionamento não é melhor do que no tempo das cavernas.
 Bene

 

sábado, 13 de outubro de 2012

Cinquenta tons de cinza


Cinquenta tons de cinza (pt-Brasil) ou Cinquenta sombras de Grey (pt-Portugal) ou Fifty Shades of Grey (en) é um romance erótico bestseller da autora britânica Erika Leonard James publicado em 2011.
O primeiro livro de uma trilogia que está sendo tratado como o “pornô das mamães”, vendeu mais de 10 milhões de livros nas seis primeiras semanas. O título faz referência a um trocadilho com o nome do mestre na dominação descrito no livro, Christian, de sobrenome Grey (cinza).
Cinquenta Tons de Cinza retrata Anastasia Steele, uma virgem de 21 anos na Faculdade de Literatura que, após entrevistar Christian Grey para o jornal da faculdade, passa a ter um relacionamento com o magnata. A trama se desenrola em Seattle, e em meio ao luxo a Anastasia descobre por meio de Christian Grey o mundo do sadomasoquismo, descrito por meio “da linguagem simples dos romances baratos e do enfoque descaradamente água com açúcar da história de amor”. Anastasia se torna escrava sexual de Grey, com ricos detalhes de bondage, sadismo e masoquismo (BDSM).
Polêmico, o sucesso editorial está sendo objeto de reações desencontradas, que vão da aprovação liberal aos protestos e fogueiras dos conservadores radicais. Particularmente, depois de uma leitura feita em tres fôlegos, posso afirmar que não aprendi nada de novo com o livro “revolucionário”, quando muito, reavivei lembranças.
O grande mérito da autora foi escancarar ao grande público coisas que as pessoas (ditas normais) sempre falaram ou fizeram a portas fechadas, mas não tinham a coragem ou a liberdade de discutí-las em público. Na sociedade moderna não há mais lugar para diferentes posturas e censuras como nos tempos de Gabriela: machos (que tudo podiam), virtuosas donas de casa (que jamais sabiam de nada) e quengas (que sabiam e faziam de tudo).
No Século XXI, todos podem e devem saber de tudo, para terem a possibilidade de exercer o livre arbítrio e fazer ou deixar de fazer alguma coisa por opção consciente e disciplinada e não por ignorância ou pressão cultural, familiar ou religiosa.
 

Bene

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Lobos que alimentamos


 
 
 
 
Muito boa a história contada pelo eminente Luiz Alca de Santana em sua coluna do jornal A Tribuna no dia 12.10.2012, aludindo ao dia da criança. Pareceu-nos a tal ponto adequada, que a reproduzimos abaixo:


Numa noite de inverno em que colocava seu neto mais novo para dormir, e quando este lhe pediu que contasse uma história, um velho e perspicaz índio Cherokee falou da batalha que acontece dentro das pessoas.
“Sabe, meu neto, a batalha é sempre entre dois lobos que se encontram num lugar muito especial, numa floresta como nenhuma outra que você já possa ter visto. Um dos dois lobos é muito mau, nele se instalam a raiva, a inveja e o ciúme. Seus olhos são tristes, sente-se neles um profundo desgosto; sua postura é ressentida, possui a violência de quem se sente culpado, dos que mentem para obter vantagens.
O outro é bom, alegre, movimenta-se com leveza pela floresta, parece trazer com ele esperança, serenidade e benevolência. Seu caminhar é cheio de fé, possui verdade no olhar. Eles estão prontos para se enfrentar”.
O garoto, que ouvia interessado, ao perceber que o avô parara a história, pergunta curioso: “Mas, vovô, qual o lobo que vence?”
O índio paciente olhou para o neto com todo amor e, acariciando-lhe a cabeça, encerrou:
O que você alimenta!”
 

terça-feira, 9 de outubro de 2012

E o sol brilhou novamente



POLÍTICA

Passadas as eleições, com toda carga emocional que costuma afastar a necessária racionalidade para o trato de assuntos tão importantes, fui surpreendido por um fato extraordinário: o sol nasceu normalmente no dia 8 de outubro.
As urnas costumam surpreender as expectativas e não obedecer às tendências captadas pelas pesquisas eleitorais. (especialmente as eletrônicas). Caras novas aparecem, coronéis são esquecidos, o PT perde espaço enquanto a coligação que apoia o governo se mantém mais ou menos na mesma. O meteoro paulistano se apagou e a polarização ficou entre o veterano Serra (antipático, sério e de comprovada experiência) e Haddad (inexperiente, sorridente produto de Lula/Maluf & Cia).
Festas dos vencedores, choro e desculpas dos derrotados. Novas alianças e argumentos nem sempre coerentes com os da semana anterior são sacados por aqueles que foram empurrados ou conseguiram se alçar ao segundo turno.
Crimes eleitorais e comuns, sujeira nas cidades com o resíduo dos santinhos (?), retorno às atividades rotineiras, folga para os servidores que trabalharam no processo eleitoral, impugnações, crise econômica e provável condenação de caciques petista no STJ.
Lula afirmou, com a sua inconsequência de sempre, que o povo estava mais interessado em saber se o Palmeiras cairia do que no resultado do mensalão. Talvez o segundo turno nos ajude a descobrir quem tem razão.
O resultado das eleições não deve ser motivo de preocupação, se é verdade que o mundo vai acabar em dezembro de 2012”, publiquei no Facebook.
Indiferente a tudo isso, o sol brilhou novamente no dia 8 de outubro, como tem feito e fará por milhares ou milhões de anos.