sábado, 28 de abril de 2012

Capacidade X Idade


Hélio Schwartsman discute em sua coluna de hoje na FOLHA-Opinião, sob o título de Questão bizantina, a diversidade da idade limite para matrícula no primeiro ano escolar: 6 ou 7, anos completos ou incompletos. Existe conflito na legislação, em diferentes regiões e até na interpretação de famílias, professores e “especialistas” *:
“Não estou advogando pelo vale-tudo. O processo de alfabetização, ao contrário da linguagem oral, não vem naturalmente. A escrita precisa ser ensinada e exige uma maturidade neurológica (cognitiva e motora) que só surge lá pelos seis anos de idade.
Esse recorte, é claro, resulta de uma média, e médias, como se sabe, são traiçoeiras. Basta lembrar que, na média, a humanidade tem um testículo e um seio, ainda que seja raro encontrar alguém com essas características. Analogamente, embora a média para a alfabetização seja de seis anos, muitas crianças já estão prontas aos cinco, enquanto outras só desabrocham lá pelos sete. Há ainda os disléxicos graves que só aprendem com acompanhamento especial”.
Isso nos leva a novas divagações como a existência de crianças superdotadas que concluem o ensino superior antes dos dezoito anos como se verifica na Índia, nos Estados Unidos e talvez em outras paragens menos presas à burocracia cartorial da nossa herança ibérica.
Decidir se alguém estará apto a começar o ensino fundamental aos 4, 5, 6 ou mais anos pode ser tarefa de especialistas de verdade, de professores bem formados e que verifiquem in loco a capacidade de cada criança. Jamais se pretenda uniformizar esse limite a partir de burocratas governamentais que não entendem de criança, de educação e nem de governo.
Por extensão, é de se questionar se uma pessoa que a lei (ou os “especialistas”) considera apta e capaz para eleger um presidente da república, não deveria ser também obrigada a responder civil e criminalmente por seus atos.  Quem pode o mais, pode o menos!” – dizia meu professor de Direito.
Extrapolando o nosso raciocínio, vamos discutir um pouco a longevidade. Antigamente, na Grécia, no Oriente, ou mais recentemente entre os nossos indígenas, antiguidade era posto. A velhice era respeitada e a experiência dos mais velhos assegurava a tradição, os hábitos e costumes dos povos. Hoje, parece que tudo mudou. Apesar de alguns discursos politicamente corretos sobre terceira idade, ecologia, direito de minorias, etc., na prática a teoria é outra.
Se antiguidade fosse posto, minha avó mandaria em casa. Embora possa ser útil aproveitar a experiência e a sabedoria dos mais velhos, não devemos ficar reféns de suas frequentes manias. O governo e o poder de mando devem advir de competência técnica, sem qualquer vínculo legal ou tradicional com a idade do agente ou do paciente. Idade não define capacidade. Afinal, os canalhas também envelhecem. Manda quem pode e obedece quem tem juízo!


* burocratas que legislam a partir de gabinetes.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Faça-se a luz !


Em 1854, o mecânico alemão Heinrich Göbel construiu a primeira lâmpada incandescente usando fios de bambu carbonizados como filamento, que foram inseridos em um bulbo de vidro após a retirada de todo o ar interno. Esta lâmpada foi conectada a uma bateria e usada para iluminar sua loja em Nova Iorque, mas tinha pouca durabilidade.

Em 1876 Thomas A. Edison, após inúmeras tentativas infrutíferas, conseguiu aperfeiçoar um modelo mais durável e com possibilidades comerciais. Começava efetivamente a era da luz elétrica nas casas e nas cidades.

Por mais de cem anos as lâmpadas incandescentes dominaram o mercado e se tornaram produtos indispensáveis ao trabalho e ao conforto moderno, apesar de serem dispendiosas, frágeis e aproveitarem como energia luminosa menos de 10% da energia elétrica consumida, uma vez que cerca de 90% era irradiada em forma de energia térmica.

Chegamos ao século XXI, com novas conquistas tecnológicas e exigências advindas da consciência ecológica que, de repente, está transformando em vilões muitos produtos e conquistas do passado, como o petróleo, o carvão e a lâmpada elétrica. Tudo em nome da salvaguarda do meio ambiente que quase destruímos e agora procuramos preservar, embora não sabendo exatamente como.

As velhas lâmpadas incandescentes estão com os dias contados. Nos USA e na Europa, já não se fabricam mais lâmpadas de 100 watts. As de 60 e de quarenta também serão proscritas em poucos anos, substituídas por produtos mais eficazes e menos poluentes, como as lâmpadas frias (fluorescentes) e as novas lâmpadas de Led, que consomem menos energia, duram cerca de 20 anos e custam algo em torno de R$ 50,00. Isso, sem falar na facilidade de substituição por terem forma e bocal compatível com as velhas incandescentes. Basta tirar uma e por a outra.

As nostálgicas imagens das lâmpadas amareladas do nosso tempo serão brevemente substituídas por novos e eficazes focos luminosos, cujo reinado certamente será menor do que foi o das suas longevas ancestrais.

Sic transit gloria mundi.

terça-feira, 17 de abril de 2012

O mundo não acabou em 2.012


“Estamos no dia 14 de março de 2.020 e comemoramos o vigésimo aniversário da Carta da Terra, aprovada pela UNESCO, em Paris, no dia 14 de março de 2.000.
Vivemos agora em um mundo em que as cidades se tornaram silenciosas e tranquilas porque os automóveis e os ônibus circulam sem ruído, os canos de escapamento não emitem senão vapor de água e as obsoletas vias expressas cederam espaço para parques e áreas verdes.
A OPEP deixou de existir porque o preço do barril de petróleo caiu a cinco dólares e, mesmo assim, são raros os compradores. Agora existem meios melhores e mais baratos de se obter os serviços que outrora dependiam dos combustíveis fósseis.
O padrão de vida de todos melhorou drasticamente, principalmente o dos pobres e o dos países em desenvolvimento. O desemprego involuntário deixou de ser uma realidade e grande parte do imposto sobre a renda e proventos foi abolida. As moradias, mesmo as mais populares, têm condições de se auto financiar com a própria energia que produzem; são poucos os aterros sanitários em funcionamento, se é que ainda existem; em todo o mundo ampliam-se incessantemente as áreas de florestas; as barragens estão sendo demolidas; o nível de CO2 na atmosfera começou a diminuir pela primeira vez em duzentos anos; e a água que sai do esgoto das fábricas é mais limpa do que a que nelas entra. Os países industrializados reduziram em oitenta por cento o consumo de recursos naturais e, ao mesmo tempo, melhoraram a qualidade de vida...”

Trata-se de um sonho?  Uma utopia?  Não! Em verdade, as mudanças aqui descritas podem vir a ocorrer nas próximas décadas como consequência de tendências econômicas e tecnológicas já existentes, dependendo apenas do grau de cidadania de todos nós, especialmente dos empresários e da honestidade de propósitos e vontade política dos governantes.


Bene

domingo, 1 de abril de 2012

Domingo de Ramos

Começa a Semana Santa, momento em que o aparente fracasso se transforma em vitória, o que era considerado maldição pelos judeus, isto é, a morte na cruz, transforma-se em glória. Foi a realização plena daquilo que já era previsto no Antigo Testamento, nas palavras sábias e inspiradas proferidas pelos profetas.

Jesus, em toda a sua paixão e morte na cruz, mostra que a violência não é vencida com outra violência e com vingança. Revela também que o sofrimento nunca pode ser causa de desânimo e de perda total de esperança. Deve ser sim, fonte de atenção aos apelos do momento e ao caminho de conquista de uma cultura de paz.

Ater-se ao mundo da violência é deixar de ser a imagem, a semelhança, ou a forma de Deus. É ir na contramão dos indicativos e dos princípios cristãos, de ter capacidade de perder algo para evitar a violência. Nesta atitude está o começo de uma nova humanidade, dando sentido à vida como sendo de Deus e não somente nossa.

No mundo do desequilíbrio, do estresse e da violência, temos que estar atentos aos fatos, ao livro da vida e responder a eles de forma coerente e convencidos de que o bem, a paz e a vida saudável são realidades possíveis. Foi justamente isto que Jesus, na Semana Santa, quis deixar claro em suas atitudes. Esse deve ser o nosso modelo, independente de crenças ou confissões religiosas.

Interessante que Jesus sofre e é massacrado justamente por ter sido justo. É o caso do ímpio que persegue o justo, porque este fala a verdade, atitude que ofende quem pratica a inverdade. Mas em Jesus acontece a vitória do derrotado, o sucesso do fracassado, a glória da humilhação e a vida que nasce da morte.
 
Com a perspectiva da alegria do Domingo de Ramos, da tristeza da Sexta-Feira da Paixão e do triunfo da Páscoa, vivamos o ano todo com a ética de fazer só o que devemos, podemos, sabemos e queremos realizar.
- Paz e Amor !