segunda-feira, 27 de maio de 2013

DROGAS



Quando atuava como professor de Economia na Universidade de Taubaté – Unitau, além de ministrar aulas e cumprir o programa regimental, também costumava lançar algumas ideias provocativas para induzir os alunos a usar o pensamento crítico além da simples aceitação dos pontos dogmáticos do ensino tradicional.
Numa dessas ocasiões, lembro-me de ter chocado aqueles que me ouviam quando, ao fazer o costumeiro comentário das notícias do dia no preâmbulo da aula, abordei o polêmico assunto do tráfico de drogas.
A plateia, numa atitude politicamente correta, foi unânime em condenar a existência dos traficantes usando variada argumentação e se posicio0nando a favor da família, da moral e dos bons costumes.
Foi surpreendente o impacto e a inércia dos alunos boquiabertos diante da minha assertiva de que os traficantes não eram assim tão criminosos ou destruidores das famílias. Na verdade, não passavam de meros contraventores pelo fato de venderem as suas mercadorias de forma clandestina e sem fornecer nota fiscal, sonegando impostos.
Sim, porque eles só vendiam drogas porque nós e nossos filhos desejávamos comprar drogas. Se a sociedade quisesse comprar santinhos e água benta na clandestinidade, o tráfico seria de santinho e água benta.
Deixemos de ser hipócritas e vejamos a coisa pela ótica econômica que, sem chegar a ser imoral, é apenas amoral. Não existem corruptos sem corruptores, assim como não existem vendedores sem compradores. A oferta é apenas a intenção de vender.  A demanda não passa da intenção de comprar. O valor e a formação de preço só serão definidos quando houver o encontro da oferta e da procura no mercado. É a sociedade quem decide o que, quanto e por quanto serão transacionados os mais diversos produtos.
Nós e nossos filhos, que nos rotulamos de “boas famílias”, somos tão ou mais responsáveis pela criminalidade e pelos malefícios das drogas do que os traficantes, que são apenas os nossos fornecedores.
Essa é para pensar em casa.

sábado, 11 de maio de 2013

Debate por um alojamento


Em alguns templos Zen, existe uma antiga tradição: se um monge errante conseguir vencer um dos monges residentes num debate sobre budismo, poderá pernoitar no templo. Caso contrário, terá de se ir embora.
Havia um templo assim no norte do Japão dirigido por dois irmãos. O mais velho era muito culto e o mais novo, pelo contrario, era tolo e tinha apenas um olho.
Uma noite, um monge errante foi pedir alojamento. O irmão mais velho estava muito cansado, tinha estudado muito. Assim, pediu ao mais novo que fosse fazer o debate; mas que debatessem em silêncio.
Pouco depois, o viajante voltou e disse ao irmão mais velho:
“Que homem maravilhoso é o seu irmão, venceu brilhantemente o debate. Assim, devo ir-me embora. Boa noite.”
“Antes de partir”, disse o ancião, ”por favor, conte-me como foi o final do diálogo.”
“Bom”, disse o viajante, “primeiramente, ergui um dedo simbolizando  Buda. O seu irmão levantou dois dedos, Simbolizando Buda e os seus ensinamentos. Então ergui três dedos, Para representar Buda, os seus ensinamentos e os seus discípulos. Aí, o seu inteligente irmão sacudiu o punho cerrado à minha frente, Indicando que todos os três vêm de uma única realização.”
Dito isso, o viajante partiu. Pouco depois, veio o  irmão mais novo parecendo muito aborrecido.
“Já soube que você venceu o debate”, disse o mais velho.
Que nada!”, disse o mais novo, “este viajante é um homem muito rude”.
É?”, disse o mais velho, “Conte-me como foi no debate.”
Ora!”, exclamou o mais novo, “no momento em que me viu, levantou um dedo insultando-me, indicando que tenho apenas um olho. Mas por ser um estranho achei que deveria ser educado. Ergui dois dedos congratulando-o por ter dois olhos. Nisto, o miserável  mal educado, levantou três dedos para mostrar que nós, os dois, tínhamos 3 olhos. Então fiquei louco e ameacei-o de lhe dar um soco no nariz – assim ele se foi.”
O mais velho sorriu.