quinta-feira, 20 de junho de 2013

O poder emana do povo ...



O Brasil e o mundo foram surpreendidos pela reação da sociedade, especialmente dos jovens, no Movimento do Passe Livre que se rebelou contra o aumento das passagens dos transportes coletivos. Isso foi apenas o estopim de um movimento mais amplo, que levou centenas de milhares de pessoas às ruas no Brasil e no mundo, revelando insatisfação com o status quo, na semana da Copa das Confederações, o que conferiu especial visibilidade na mídia mundial.
Quando se observa que aumentam as discussões sobre a construção de uma nova comunidade, sobre o exercício da cidadania plena e acerca do empreendedorismo social, depreende-se que está ocorrendo uma mudança de paradigmas.
O atual modelo de desenvolvimento escravizado ferreamente ao econômico poderá ser, de maneira gradativa, substituído pelo negócio social entendido como a síntese concreta dos interesses da coletividade. A trajetória preconizada pelo empreendedorismo vai do privado ao político-intitucional, passando pelo social e pelo cívico.
A virtude cívica, que não se prende a quaisquer tempos e espaços, está voltada para a coisa pública, como acentuou Cícero. Para ele, a comunidade deve assumir as rédeas do seu destino e não se alienar nos poderes políticos, por melhores que sejam. Até Maquiavel, tido como o primeiro cientista político do mundo moderno a partir da Renascença, reforça o valor e a atualidade da virtude, esse dínamo que deve movimentar a sociedade a partir do cidadão consciente. É o “empowerment”, vocábulo que ainda não obteve visto definitivo de permanência na língua portuguesa, porém é de expressiva significação: investir-se do poder de se conduzir.
Não podemos concordar com a frequente definição do brasileiro como indolente, pouco capaz, de baixa qualificação, indisciplinado e que exige controle rigoroso para trabalhar. Também não é verdade que as pessoas não gostam de mudança. Warren Bennis, consultor americano, afirma que as pessoas não gostam é de ser mudadas. Quando motivadas e participantes do planejamento, não só gostam como têm demonstrado excelente capacidade de mudança e de realização, porque fazem “aquilo que desejam e em que acreditam” e não por obediência à lei ou aos outros.
Um extraordinário exemplo de eficiência e de eficácia no exercício de gestão de um evento pode ser constatado nas escolas de samba, especialmente no Rio de Janeiro. Milhares de participantes percorrem o sambódromo, com alas, fantasias, e carros alegóricos numa performance que dificilmente se consegue nas melhores e mais bem qualificadas empresas multinacionais. A se comparar com hospitais e outros órgãos da administração pública a diferença fica ainda mais arrasadora.  Com uma estrutura enxuta e constituída mais de pessoas que sabem e querem fazer carnaval, administram orçamentos fabulosos, demonstram competências empresariais como administração do tempo, autonomia (empoderamento), comunicação, criatividade, liderança, motivação, orientação para resultados, trabalho em equipe e visão estratégica. Comando, cooperação, coordenação e controle são naturalmente exercidos e as pessoas ostentam semblantes suados, mas felizes e sorridentes porque estão fazendo aquilo por convicção pessoal e não por obrigação ou obediência a leis, regras ou procedimentos escritos por estranhos. Ali, a atitude sobrepuja a técnica.
Nas empresas e no governo, onde preponderam normas e procedimentos, a técnica sufoca a atitude, com frequência infeliz.
Assim como uma águia só consegue voar com as duas asas, nossas comunidades do terceiro setor terão os melhores resultados se souberem unir o natural entusiasmo (atitude) com um mínimo de procedimentos e rotinas de boas práticas (técnica).

Aí sim, poderemos afirmar que ninguém segura este país!

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