O
Brasil e o mundo foram surpreendidos pela reação da sociedade, especialmente
dos jovens, no Movimento do Passe Livre que se rebelou contra o aumento das
passagens dos transportes coletivos. Isso foi apenas o estopim de um movimento
mais amplo, que levou centenas de milhares de pessoas às ruas no Brasil e no
mundo, revelando insatisfação com o status
quo, na semana da Copa das Confederações, o que conferiu especial
visibilidade na mídia mundial.
Quando
se observa que aumentam as discussões sobre a construção de uma nova
comunidade, sobre o exercício da cidadania plena e acerca do empreendedorismo
social, depreende-se que está ocorrendo uma mudança de paradigmas.
O atual modelo de desenvolvimento escravizado ferreamente ao econômico
poderá ser, de maneira gradativa, substituído pelo negócio social entendido
como a síntese concreta dos interesses da coletividade. A trajetória
preconizada pelo empreendedorismo vai do privado ao político-intitucional,
passando pelo social e pelo cívico.
A virtude cívica, que não se
prende a quaisquer tempos e espaços, está voltada para a coisa pública, como
acentuou Cícero. Para ele, a comunidade deve assumir as rédeas do seu destino e
não se alienar nos poderes políticos, por melhores que sejam. Até Maquiavel,
tido como o primeiro cientista político do mundo moderno a partir da
Renascença, reforça o valor e a atualidade da virtude, esse dínamo que deve
movimentar a sociedade a partir do cidadão consciente. É o “empowerment”,
vocábulo que ainda não obteve visto definitivo de permanência na língua
portuguesa, porém é de expressiva significação: investir-se do poder de se
conduzir.
Não podemos concordar com a frequente definição do brasileiro como
indolente, pouco capaz, de baixa qualificação, indisciplinado e que exige
controle rigoroso para trabalhar. Também não é verdade que as pessoas não
gostam de mudança. Warren Bennis, consultor americano, afirma que as pessoas
não gostam é de ser mudadas. Quando motivadas e participantes do planejamento,
não só gostam como têm demonstrado excelente capacidade de mudança e de
realização, porque fazem “aquilo que desejam e em que acreditam”
e não por obediência à lei ou aos outros.
Um extraordinário exemplo de eficiência e de eficácia no exercício de
gestão de um evento pode ser constatado nas escolas de samba, especialmente no
Rio de Janeiro. Milhares de participantes percorrem o sambódromo, com alas,
fantasias, e carros alegóricos numa performance que dificilmente se consegue
nas melhores e mais bem qualificadas empresas multinacionais. A se comparar com
hospitais e outros órgãos da administração pública a diferença fica ainda mais
arrasadora. Com uma estrutura enxuta e
constituída mais de pessoas que sabem e querem fazer carnaval, administram
orçamentos fabulosos, demonstram competências empresariais como administração
do tempo, autonomia (empoderamento), comunicação, criatividade, liderança,
motivação, orientação para resultados, trabalho em equipe e visão estratégica.
Comando, cooperação, coordenação e controle são naturalmente exercidos e as
pessoas ostentam semblantes suados, mas felizes e sorridentes porque estão
fazendo aquilo por convicção pessoal e não por obrigação ou obediência a leis,
regras ou procedimentos escritos por estranhos. Ali, a atitude sobrepuja a
técnica.
Nas
empresas e no governo, onde preponderam normas e procedimentos, a técnica
sufoca a atitude, com frequência infeliz.
Assim como uma águia só consegue voar com as duas asas, nossas
comunidades do terceiro setor terão os melhores resultados se souberem unir o
natural entusiasmo (atitude) com um mínimo de procedimentos e rotinas de
boas práticas (técnica).
Aí sim, poderemos afirmar que ninguém segura este país!
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