O ser humano positivamente nasceu
para ser feliz. Mas, no padrão de consumo da cultura ocidental, parece ter
havido uma inversão de valores onde o ter tornou-se muito mais importante do
que o ser. Se eu consumo, logo existo. Nós deveríamos usar as coisas e amar as
pessoas, mas, na prática, amamos as coisas e usamos as pessoas. Por quê?
Quanta coisa nós possuímos, entulhando
as nossas casas e depósito, que em nada contribuem para a nossa felicidade ou
concorrem para o nosso bem estar? Vestuário, sapatos, móveis, livros,
eletrônicos, ferramentas, adornos, lembranças, etc. Quinquilharias inúteis
ocupando lugar e conservando uma energia escura contribuindo para o mofo do
envelhecimento da nossa vida.
Os escoteiros tem uma boa norma.
Ao retornar dos acampamentos, dividem a tralha em três montes: usei muito, usei
pouco e não usei. Os primeiros, seguramente estarão na mochila do próximo ano.
Os pouco usados devem ser repensados se vale a pena levar novamente. E dos
últimos, somente algo como primeiros socorros, que sempre é bom ter e não precisar
usar.
Luiz Alca de Sant´Anna afirma, em
sua crônica semanal, que a Lei da Circulação e Compensação consiste exatamente
em não se guardar para si as experiências adquiridas, os talentos vindos na
individuação, o desenvolvimento e a compreensão do que realmente estamos
fazendo aqui. Fazer circular a fé, a esperança e a caridade não são coisas
fáceis de praticar, mas pode ser algo extremamente gratificante.
Há um movimento americano muito
bonito, hoje com milhares de adeptos pelo mundo, chamado Reversão do Privilégio
e que ensina as pessoas que a melhor forma de agradecer as graças é abrindo
para os outros, aquilo que ganhamos, considerando a graça e a bondade do Grande
Mestre em nos dar algo em proporção maior do que a nossa necessidade. Isso foi
bem retratado num filme americano intitulado A Corrente do Bem.
Precisamos avaliar se não estamos
saturados de coisas e rótulos descartáveis e de importâncias que nada valem em
nossa mente. Um copo transbordando não permite nem mais uma gota d´água. Abrir
espaço para o novo, desapegar e não se prender tanto ao que não vale a pena,
para não atravancar o verdadeiro fluxo do Bem.
Tenhamos a certeza de que fazer
circular nossos bens e dons não diminui os nossos recursos, muito pelo
contrário. A infelicidade do individualista, do egocêntrico, do ególatra é
nítida e definida no campo espiritual, embora possa parecer vantajoso no
cotidiano concreto percebido apenas pelos medíocres.
Desapegue-se, partilhe, faça
circular, reverta, passe à frente e assim compense o privilégio de toda uma
vida.
Como dizia São Francisco, “é dando que se recebe”.
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