Passados dois anos, fazendo geralmente velejadas curtas na baía de Santos, o cenário começou a me parecer rotineiro. Isso, aliado ao fato de que a direção da marina começou a criar dificuldades para manter a subida semestral do veleiro, para raspagem de cracas e pintura de fundo, me levou a buscar outro endereço. Acertei com a Pier XV, no canal de Bertioga.
Às 09:30h de 10/11/10, com ajuda do sempre fiel marinheiro Chico, que colocou o motor, preparamos o barco e fizemos o check-list de saída. Dia nublado, bons ventos e partida no horário. Vento de proa na saída do canal e quase 3 horas para vencer a maldição da Ilha da Moela com mar grosso, muitos carneiros e borrifos frequentes. Com o veleiro atravessando nas ondas, quase desistimos na altura da Ponta Grossa. Na praia das Astúrias, abrimos 1/3 da genoa e a velocidade aumentou de 3,8 para 4,8 nós no GPS. O vento rondou temporariamente para SE e chegamos à Ilha das Cabras com um través pouco confortável em mar grosso, com chuva forte e ondas de 1,5m a cada 9 segundos, que serviram para mostrar o quanto é marinheiro o casco do velho Atoll23 que, caturrando e balançando, deu conta do recado. Resolvemos encarar o mar de frente. Enrolamos a genoa e seguimos motorando, deixando a Ilha do Arvoredo por bombordo, com muitas ondas de mais de 1,5m que literalmente nos davam seguidos banhos. Fizemos o transbordo de combustível para completar o tanque, uma vez que os frequentes bordos estavam encompridando a nossa derrota e, em função das circunstâncias, manteríamos o motor funcionando. Estávamos completamente molhados e com mais de 4 horas do tempo previsto em apenas 2/3 do trajeto. O tempo oscilava bastante, ora clareando um pouco, ora fechando com chuva fina que reduzia e visibilidade e recomendava o uso frequente do GPS. Na altura do Perequê, o vento voltou a SW e passamos a surfar com a genoa novamente a 1/3, chegando a 8,2 nós no GPS. Em pouco mais de uma hora, ultrapassamos a Ilha do Guará, Iporanga, Praia Branca e entramos na Ponta da Armação, contornando a Pedra do Corvo. Com vento frio e uma chuva fina na cara, entramos no canal e chegamos ao destino apenas uma hora além do previsto. Molhados, cansados, com adrenalina lá em cima, pegamos a poita, amarramos o Mangalarga de popa no píer e desembarcamos felizes com o sabor de vitória que teve a aventurosa travessia.
Dois dias se passaram até que eu pudesse retomar a rotina normal. As dores no corpo também foram diminuindo com analgésico e relaxante muscular. A adrenalina voltou ao normal e eu estou bastante orgulhoso de ter me saído bem ao por em prática manobras muito estudadas, mas raramente praticadas.
Confesso que passei a admirar ainda mais a expressão, às vezes jocosa, que se refere ao mar calmo, como “mar de almirante”.
É isso ai, gente!
Descrição enxuta, mas clara!
ResponderExcluirBela saga amigo!
Parabéns: mais que valeram o cansaço e dores no corpo.
Abração,
Flavio
Hei!
ResponderExcluirNão sei como cancelar este ráio de Expats Brazil!
A postagem deveria aparecer como flavio.musa@gmail.com...
Valeu Flavio
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