Nosso mundo está cheio de gente que faz de conta. Se
observarmos o Facebook, por exemplo,
parece que todos são educados, com as exceções (e excessos) de praxe. São
felizes e vivem postando bons conselhos, pensamentos de livros e críticas ao
governo. Também defendem a ecologia, as minorias e os animais.
Quando em treinamento, costumamos pedir aos participantes
que completem rapidamente, sem serem politicamente corretos, a seguinte frase
escrita no quadro: A HUMANIDADE É ...
Ácida, cruel, bela, burra, insana, evolutiva, hipócrita,
maravilhosa, falsa, injusta, venal, e outras tantas respostas costumam
aparecer, na base de 3 x 1, com defeitos e qualidades. A seguir, pedimos que
risquem A HUMANIDADE É ... e escrevam EU SOU, em seu lugar. A princípio,
muitos ficam chocados.
Quer queiramos ou não, a humanidade tem a nossa
cara. E o mundo será melhor ou pior na próxima década, segundo o somatório
daquilo que eu, você e todos os demais indivíduos fizermos. Mas pouca gente
pensa seriamente nisso.
Nós fomos criados e educados por quinze, vinte ou mais
anos, sempre tratados como crianças ou imbecis e desenvolvemos um sentimento de
impotência e de culpa, que nos leva de imediato a buscar desculpas e a
responder – Não fui eu ! – rapidamente a qualquer pergunta. Além disso, temos o
mau hábito de arranjar desculpa para todos os nossos fracassos e mazelas, com frequência,
jogando a responsabilidade em outras pessoas.
Consciente ou inconscientemente, somos cínicos e
hipócritas porque acreditamos que a providência divina deve salvar a nossa
alma; a presidência acabar com a corrupção e a inflação, o estado tem a
obrigação de prover segurança e o prefeito de asfaltar as ruas. A empresa deve
nos reconhecer e conceder aumentos, os chefes tem a obrigação de nos promover e
cabe aos professores nos dar boas notas. Esposas e maridos devem cuidar do lar e dos filhos. Sempre achamos que os outros é que devem fazer
alguma coisa!
E quando alguém nos pergunta o que achamos da
humanidade, despejamos todo o nosso recalque, desafogamos as nossas mágoas e,
na base do três por um, os adjetivos são sempre dotados de forte conotação
negativa, ressaltando problemas de uma humanidade que não seria a nossa.
Cinicamente, agimos como se fôssemos marcianos e não temos escrúpulos em
apontar todos os males que sabemos existir, mas dos quais não gostamos de
compartilhar a responsabilidade.
– E nós mesmos, afinal, fazemos o quê?
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