Quando
atuava como professor de Economia na Universidade de Taubaté – Unitau, além de
ministrar aulas e cumprir o programa regimental, também costumava lançar
algumas ideias provocativas para induzir os alunos a usar o pensamento crítico
além da simples aceitação dos pontos dogmáticos do ensino tradicional.
Numa dessas
ocasiões, lembro-me de ter chocado aqueles que me ouviam quando, ao fazer o costumeiro
comentário das notícias do dia no preâmbulo da aula, abordei o polêmico assunto
do tráfico de drogas.
A plateia,
numa atitude politicamente correta, foi unânime em condenar a existência dos
traficantes usando variada argumentação e se posicio0nando a favor da família,
da moral e dos bons costumes.
Foi
surpreendente o impacto e a inércia dos alunos boquiabertos diante da minha
assertiva de que os traficantes não eram assim tão criminosos ou destruidores
das famílias. Na verdade, não passavam de meros contraventores pelo fato de
venderem as suas mercadorias de forma clandestina e sem fornecer nota fiscal,
sonegando impostos.
Sim, porque
eles só vendiam drogas porque nós e nossos filhos desejávamos comprar drogas. Se a
sociedade quisesse comprar santinhos e água benta na clandestinidade, o tráfico
seria de santinho e água benta.
Deixemos de
ser hipócritas e vejamos a coisa pela ótica econômica que, sem chegar a ser
imoral, é apenas amoral. Não existem corruptos sem corruptores, assim como não
existem vendedores sem compradores. A oferta é apenas a intenção de
vender. A demanda não passa da intenção
de comprar. O valor e a formação de preço só serão definidos quando houver o encontro
da oferta e da procura no mercado. É a sociedade quem decide o que, quanto e
por quanto serão transacionados os mais diversos produtos.
Nós e
nossos filhos, que nos rotulamos de “boas famílias”, somos tão ou mais
responsáveis pela criminalidade e pelos malefícios das drogas do que os
traficantes, que são apenas os nossos fornecedores.
Essa é para
pensar em casa.
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